Inocência cria leis para não ser “engolida” pela Arauco
Por NERI KASPARY
Conhecida como “Princesinha do Leste”, Inocência criou uma série de mecanismos legais para tentar impedir que a cidade seja “engolida” futuramente pelo surgimento de um novo conglomerado urbano no entorno da fábrica de celulosa da chilena Arauco, já que ela será instalada a cerca de 50 quilômetros da área urbana.
A percurso é o equivalente à distância entre Campo Grande e o distrito de Anhanduí. Então, em tese, seria mais vantajoso morar próximo ao local do trabalho do que fazer diariamente a viagem até a indústria.
Durante o período da construção da fábrica, cuja licença de instalação foi entregue nesta sexta-feira pelo governo estadual, os operários serão todos abrigados próximo ao canteiro de obras, às margens da MS-377 e do Rio Sucuriú.
No pico dos trabalhos serão até 12 mil pessoas, conforme Carlos Altimiris, CEO da Arauco no Brasil. E para atendê-los, a empresa terá de providenciar toda a infraestrutura para que tenham condições apropriadas de alojamento, assistência à saúde, segurança e até lazer.
Mas depois que as obras terminarem, todos os funcionários fixos da indústria, que nesta primeira fase serão em torno de 550, terão de residir na área urbana de Inocência, explicou o prefeito Antônio Ângelo Garcia dos Santos, mais conhecido como Toninho da Cofap, após a solenidade de entrega da licença de instalação da indústria, que aconteceu nesta sexta-feira (10) no Parque dos Poderes, em Campo Grande.
“Lá não pode virar cidade. Inclusive a própria Arauco vai construir sua vila lá dentro de Inocência. No entorno da fábrica não pode ser construído qualquer tipo de habitação”, explicou Toninho, ao citar o exemplo de Chapadão do Sul, que apresentou crescimento astronômico nas últimas décadas e fez com que Cassilândia parasse no tempo, de acordo com ele.
A empresa assumiu o compromisso de construir 700 habitações na área urbana de Inocência para abrigar os funcionários permanentes que vão trabalhar na fábrica. A previsão é de que a primeira fase da indústria seja ativada no começo de 2028, quando a empresa terá capacidade para produzir 2,5 milhões de toneladas.
E por conta dos investimentos bilionários da região, só a instalação da fábrica demandará R$ 28 bilhões, a população de Inocência, que hoje é de pouco mais de 8 mil moradores, deve dobrar depois que a fábrica for ativada, acredita Toninho da Cofap, que tem este apelido porque durante 48 anos trabalhou no setor privado deste ramo.
OMELETE
O governador Eduardo Riedel, o CEO da Arauco, Carlos Altimiris, e o prefeito de Inocência são unânimes em afirmar que durante o período de construção a cidade vai enfrentar uma série de contratempos, mas deixam claro que não tem como fazer omelete sem quebrar os ovos.
E para tentar reduzir estes transtornos, a Arauco se baseou no caso de Ribas do Rio Pardo e justamente por isso optou em abrigar os trabalhadores fora da cidade. Mesmo assim, o prefeito é cuidadoso com o uso das palavras para evitar a terceirização das responsabilidades para os trabalhadores e isentar o poder público e a própria multinacional destes encargos.
“Os trabalhadores não vão trazer problemas para a cidade. Eles vão ter lá suas demandas. Nós vamos fazer um trabalho conjunto com a Arauco para que não venham a ter qualquer tipo de problema. Mas esse pessoal ficando na fábrica, é muito melhor para cidade”, admitiu
Conforme o prefeito, por conta do provável crescimento econômico decorrente dos investimentos, a cidade deixará de ser “Princesinha do Leste” e passará a fazer juz ao apelido de “Rainha do Leste”, apesar de Três Lagoas estar quase duas décadas à frente no que se refere à produção de Celulose.
Prefeito de Inocência, Toninho da Cofap, diz que todas as 700 casas que a Arauco vai construir ficarão no perímetro urbano
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