FIGUEIRÃO – A FAZENDA MONTE ALTO
POR – Professor Admar de Araújo.
A SEDE DA FAZENDA FICAVA ENTRE O MONTE ALTO E O RIO FIGUEIRÃO. A CASA ERA ENORME, COBERTA DE FOLHAS DE BURITI, PAREDES DE PAU A PIQUE, DIVIDIDA EM UMA SALA E QUATRO QUARTOS. ANEXO AO FUNDO, UNIDAS POR UMA LONGA BICA DE TRONCO DE BURITI, HAVIA A CASA DA COZINHA COM A DESPENSA. A COZINHA OSTENTAVA UM LINDO FOGÃO DE LENHA BARREADO COM AS MÃOS, EM BARRO BRANCO, DECORADO COM DESENHOS DE GALHOS DE FLORES E CORAÇÕES: ARTE CARACTERÍSTICA DAS MULHERES DO “SERTÃO DO FIGUEIRÃO”. PANELAS DE FERRO, CHALEIRA, BULE, PRATOS ESMALTADOS E UM TACHO DE COBRE, DAVAM UM TOQUE DE PERFEIÇÃO NO AMBIENTE. NA PAREDE DO QUARTO DO CASAL, PENDURADOS EM PREGOS, RELAMPIAVAM UM REVÓLVER 38 SCHMIDT COM A CARTUCHEIRA AMARELADA DE BALAS, UMA CARABINA WINCHESTER E UM FACÃO JACARÉ. SOBRE A MESINHA, UMA LAMPARINA A QUERSENE E UMA LANTERNA A PILHA.
O QUINTAL ERA FECHADO COM LASCAS DE AROEIRA VERTICAIS, COBERTAS PELOS GALHOS FLORIDOS DE PRIMAVERA, COPO- DE- LEITE, ROSEIRA E BUGARIM. ALI, AS BORBOLETAS, ABELHAS E
COLIBRIS FAZIAM FESTA, ENQUANTO RESPIRÁVAMOS O AR PERFUMADOS PELAS FLORES.
À ESQUERDA, O CURRAL. O PAIOL ERA ESTIVADO COM CASQUEIROS DE CEDRO, LOCAL EM QUE MEU PAI ARMAZENAVA MILHO, GUARDAVA AS TRALHAS DE MONTARIA E
HOSPEDAVA AS PESSOAS ESTRANHAS. A TULHA DE ARROZ FICAVA NA SALA. À DIREITA, ESTAVA A CASA DA ESCOLA, ONDE AS PROFESSORAS AYDIA, LOLA E ENERGINA, DERAM AS PRIMEIRAS INSTRUÇÕES ESCOLARES AOS ALUNOS DA FAZENDA E VIZINHOS. DUAS CRUZES DE VINHÁTICO, FINCADAS EM FRENTE AO CURRAL, ASSINALAVAM A SEPULTURA DE MEU IRMÃO ADNIAS, VÍTIMA DE UMA COBRA PEÇONHENTA E A OUTRA, DE MEU TIO ADELOR, ASSASSINADO POR UM CRIMINOSO DA TERRA. A CRUZ MENOR, PERTENCIA AO MEU IRMÃO PRIMOGÊNITO.
CRESCI OUVINDO HISTÓRIA FANTÁSTICAS, NARRADAS PELOS VISITANTES E AMIGOS DE MEU PAI QUE VINHAM POUSAR EM CASA. ADORMECIA COM MEDO, MAS COM MUITA SEGURANCA NO COLO PATERNO. QUANDO ME DESPERTAVA, À NOITE, VIVIA OS PERSONAGENS DAS LENDAS, MITOS, ASSOMBRAÇÕES E CAÇADAS DE ONÇAS.
ERA UMA FESTA PARA NÓS, QUANDO RECEBÍAMOS A VISITA DA DONA MATILDE, DONA JOAQUINA, SEU GUILHERME PEQUI E VOVÓ JESUÍNA. ÀS TARDES, QUANDO AS NUVENS ESCURAS E TEMEBROSAS, ACOMPANHADAS DE VENTOS FORTES ESPALHAVAM PELO ESPAÇO AS FOLHAS ARRANCADAS DO MONTE ALTO, EU IMAGINAVA QUE ERAM OS PÁSSAROS E INSETOS VOADORES SE DIRIGINDO PARA A FESTA NO CÉU.
A UNS TREZENTOS METROS, HAVIA A “ESTRADA VELHA”, DA ÉPOCA EM QUE OS PIONEIROS ATRAVESSAVAM O “VAU DA JESUÍNA”. DO PÁTIO DA FAZENDA, AVISTÁVAMOS PESSOAS PASSANDO EM DIREÇÃO À FAZENDA LIMEIRA OU VOLTANDO RUMO AO BONITO VELHO.
A FAZENDA MONTE ALTO ERA ASSOMBRADA. MINHA MÃE OUVIA VOZES E RISADAS DE CRIANÇAS. GANHOU O TESOURO ENCANTADO, MAS NUNCA TEVE CORAGEM DE ARRANCÁ-LO. EM FRENTE A SEDE DA MONTE ALTO, PASSAVA A RODOVIA QUE VINHA DE CAMAPUÃ. EM 1.952, CHEGOU POR ELA O PRIMEIRO CAMINHÃO TRAZENDO A MUDANÇA DO PROFESSOR DEMÉTRIO E DO SARGENTO SAMUEL.
EM 1,954, MEU PAI VENDEU A MONTE ALTO E VEIO ADMINISTRAR A VILA DE FIGUEIRÃO, QUE ELE INICIAVA. HOJE, DA FAZENDA MONTE ALTO, RESTAM APENAS O MONTE ALTO, A CERTIDÃO DA PRIMEIRA RODOVIA, DOIS PÉS DE MANGAS E MUITAS RECORDACOES. TEVE O MESMO DESTINO. DESAPARECEU JUNTO COM OS SONHOS DA FAMÍLIA GALVÃO.