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Área de eucaliptos da Arauco equivale a quase metade do tamanho de Campo Grande

Por Silvia Frias

No dia 22 de junho de 2022, a Arauco Celulose do Brasil S.A anunciou a instalação de fábrica em Inocência, a 337 quilômetros de Campo Grande. Naquele período, Mato Grosso do Sul foi escolhido por ter “grande potencial para o plantio de eucalipto e excelentes opções logísticas para o escoamento da produção”.

Hoje, passados três anos, a empresa fez o lançamento oficial da obra, depois da execução da terraplanagem, iniciada em meados de 2024. O Projeto Sucuriú marca a entrada da divisão de celulose da Arauco no Brasil. A planta industrial será construída a 50 km de Inocência, na margem esquerda do rio que dá nome ao projeto. Ficará a 100 km do Rio Paraná, próximo da MS-377.

Com investimento de US$ 4,6 bilhões (R$ 26,8 bilhões), tem previsão de iniciar operação no último trimestre de 2027, com capacidade estimada de 3,5 milhões de toneladas de celulose.

Uma indústria que em sua produção 90% vai ser exportada para o mundo. O comércio exterior é o que mais gera empregos. Estamos desburocratizando e reduzindo custos para contribuir com este processo. O desenvolvimento gera empregos, renda e dignidade para população”, lembrou o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, que participou do lançamento da obra hoje.

Fábrica que está sendo construída em Inocência deverá entrar em operação em 2027 (Foto: Marcos Maluf)
Para isso, projeta números ambiciosos em MS: a fábrica será abastecida por área florestal de 400 mil hectares de plantação de eucalipto, para oferta de matéria-prima, o que representa 49,42% da área total de Campo Grande, que é de 8.096 km² ou 809.600 hectares. Por ser estrangeira, a empresa não adquiriu terras, mas fez contratos com proprietários de fazendas.

No pico da obra, segundo informações disponíveis, serão 14 mil novos empregos; na operação da fábrica, serão 6 mil empregos. Os números superam a geração de emprego atual em todo o estado. Para se ter ideia do quanto a execução e a operação do projeto irão movimentar, MS gerou 8.333 novos empregos em fevereiro, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Ao longo de todo projeto, a estimativa é de que cerca de 40 mil pessoas passarão pela obra.

CEO do grupo, Cristian Infante, lembrou que é o “maior investimento da história e nos projeta para um futuro com entusiasmo. MS deu condições favoráveis para o crescimento das florestas e disponibilidade de ampliação. O estado mostrou seriedade e profissionalismo e contrasta com a burocracia de outros lugares do mundo que dificultam o desenvolvimento”, disse. Ele prometeu “competência e excelência para levar o melhor para o mundo. Inocência entra em um círculo virtuoso para prosperidade do Estado”.

A planta vai operar produzindo eletricidade em larga escala e em um ciclo fechado (completo), com capacidade de geração superior a 400 megawatts (MW) e aproximadamente 200 MW destinados à demanda de consumo interno. O excedente, suficiente para abastecer cidade com mais de 800 mil habitantes, será fornecido ao sistema de comercialização de energia elétrica nacional.

Solenidade oficial para inicio da obra em Inocência ocorreu nesta quarta-feira (Foto: Marcos Maluf)
Essa “sobra” poderia abastecer quase toda a cidade de Campo Grande, que tem população de 898.100 habitantes ou quase 3 vezes Dourados, com 243.367 pessoas, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Representante da Arauco no Brasil, Carlos Altimiras, lembrou que Inocência “viverá uma “transformação positiva” entrando no setor econômico que se tornou o carro chefe das exportações do Estado. A Arauco é a dona da quinta fábrica se instalando no Estado e deve gerar 14 mil empregos no auge da obra. O impacto quando já estiver operando a fábrica tem números impactantes. “Vamos gerar 100 mil empregos diretos e permanentes”.

A estrutura para receber tamanha transformação abrange construção de aeroporto de Inocência, com investimento de R$ 15,4 milhões, que terá pistas de pouso e decolagem, taxiway (que conecta a pista principal ao pátio), pátio de aeronaves e alambrado operacional.

Eduardo Riedel e Geraldo Alkmin ao chegarem em Inocência para evento da Arauco. (Foto: Marcos Maluf)
Outra obra é a construção do ramal de 47 quilômetros, que irá conectar produção de celulose até o Porto de Santos. O ramal deve custar R$ 1 bilhão, com obras iniciando em setembro.

Segundo o titular da Semadesc (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, “agora, o projeto do ramal entra na fase da DUP (Declaração de Utilidade Pública), documento emitido com objetivo de permitir a desapropriação de áreas de terras necessárias para implantação de empreendimento”.

A produção de celulose é uma das principais forças econômicas de Mato Grosso do Sul. Em janeiro, a receita com exportações de industrializados alcançou US$ 394,5 milhões. Os principais compradores foram China, Holanda, Itália, Estados Unidos e Reino Unido. Isso representa 56% dos US$ 703,3 milhões alcançados no Estado.

O governador Eduardo Riedel chamou de “momento histórico”, não apenas para Inocência, mas também ao Mato Grosso do Sul. “Toda esta região será impactada com este grande investimento privado. Lembro de quando fomos ao Chile, visitamos os empreendimentos e aprendemos a cultura deles. Conhecemos a seriedade, simplicidade e competência do grupo. Lá se estabeleceu um compromisso e confiança para viabilizar o maior empreendimento privado nos dias de hoje”.

Trazer tamanho investimento para o Estado foi complexo, começou com tratativas no governo de Reinaldo Azambuja. “Nós plantamos isso aqui em 2020, culminamos com o termo de compromisso dia 23 de junho de 2022 lá no Bioparque… E hoje a gente vê praticamente assim a finalização de algo que é fundamental, que vai trazer emprego, oportunidade, desenvolvimento, crescimento de toda essa região, então fico muito feliz que é mais um passo importante de industrialização e das oportunidades que surgem. Então aquilo que nós plantamos em 2020, a gente vê hoje no ano de 2025 se concretizando”, disse o ex-governador.

Autoridades durante visita à área que entra na fase de construção (Foto: Marcos Maluf)
Impacto social – A diretoria da Arauco informou que tem plano estratégico de investimento articulado com governo estadual e prefeitura para minimizar os impactos sociais decorrentes da construção da fábrica de celulose em Inocência.

A empresa diz que foi feito levantamento, em parceria com o governo estadual, que identificou nove áreas classificadas como passíveis de “pressões sociais”, causadas pela chegada de milhares de trabalhadores durante a construção e, posteriormente, na operação da planta. Saúde, educação, segurança pública e assistência social foram consideradas as mais sensíveis.

Em fevereiro, o Campo Grande News fez série de reportagens mostrando o impacto da obra em Inocência, citando a demanda em postos de saúde, além de ter se tornado rota da prostituição e do tráfico de drogas. (confira as matérias no final deste texto). A chamada “partida da CLAM” — nome que faz referência ao início das operações da planta industrial.

Apesar dos temores, o prefeito de Inocência, Antônio Ângelo Garcia dos Santos, diz que agora realiza um sonho.”É o maior sonho de nosso tempo. Temos muitos parceiros nessa caminhada”, mencionou, citando o ex-governador Reinaldo Azambuja. Voltou a apontar o impacto positivo que a cidade terá, repetindo momentos anteriores de avanço do projeto, que a colocará como a “rainha da costa leste”.

(Foto: Marcos Maluf)

campograndenews

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