Os brasileiros que estavam esperando ajuda das autoridades para deixar a Faixa de Gaza finalmente conseguiram atravessar a fronteira e já estão no Egito, informou neste domingo (12/11) o governo brasileiro.
Eles estão a caminho do Cairo, depois de terem passado pela imigração na fronteira. O voo da Força Aérea Brasileira de repatriação para o Brasil deverá decolar da capital egípcia na manhã de segunda-feira (13/11).
Segundo nota do ministério das Relações Exteriores do Brasil nas redes sociais, divulgada às 5h42 da manhã deste domingo, o grupo de 32 brasileiros chegou ao Egito, onde foi recebido por uma equipe da embaixada brasileira no Cairo, responsável pela etapa final da repatriação.
Ainda de acordo com o Itamaraty, duas pessoas desistiram de ir para o Egito e ficaram em Gaza. O governo brasileiro divulgou vídeos e fotos do grupo de brasileiros que deixou Gaza.
A saída dos brasileiros era esperada para sábado, mas a fronteira fechou por problemas diplomáticos entre Egito e Israel, segundo uma fonte ouvida pela BBC News Brasil.
Na sexta-feira, o governo havia divulgado planos para a repatriação dos brasileiros. A previsão anterior era de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) receberia os repatriados na Base Aérea de Brasília no domingo.
O secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, detalhou o planejamento para a acolhida do grupo de brasileiros.
“Alguns brasileiros já têm destino certo porque têm familiares aqui, então serão deslocados para esses locais. Uma parcela significativa, quase a metade do grupo, não tem onde ficar, mas o Governo Federal já disponibilizou, através do Ministério do Desenvolvimento Social, um local onde essas pessoas ficarão acolhidas. Vai ser no interior de São Paulo”, afirmou Botelho.
O secretário não disse em qual cidade, mas afirmou que é um local que tem experiência na recepção de estrangeiros e refugiados.
Segundo Botelho, assim que chegarem, os repatriados serão atendidos por equipes multidisciplinares abrangendo médicos, enfermeiros, assistentes sociais, profissionais da Polícia Federal (para ajudar com a regularização de documentos) e de agências da ONU, com intérpretes.
A inclusão do Brasil na lista dos países autorizados a repatriar seus cidadãos foi confirmada pelo Itamaraty na quinta-feira (9).
O grupo de brasileiros e seus familiares dessa primeira lista estava dividido entre duas cidades palestinas antes de se deslocar para as proximidades da fronteira: 18 estavam na cidade fronteiriça de Rafah, que liga a Faixa de Gaza ao Egito; e 16 em Khan Yunis, perto da mesma fronteira.
O plano é que do Cairo eles sigam em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) rumo ao Brasil, com escalas em Roma, na Itália; Las Palmas, na Espanha; e Recife.
A expectativa de retirada dos brasileiros ocorre após semanas de incertezas, tratativas e crises diplomáticas.
O grupo ficou de fora das sete primeiras listas de estrangeiros autorizados a deixar o território palestino — até agora, centenas já cruzaram a fronteira, entre 300 a 600 por dia.
A demora para a liberação dos brasileiros acabou estremecendo as relações entre Brasil e Israel.
A tensão entre os dois países foi intensificada por outros episódios recentes, como o encontro entre o embaixador do país no Brasil, Daniel Zonshine, com parlamentares de oposição e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); e as declarações de autoridades israelenses sobre uma operação da Polícia Federal que prendeu dois brasileiros suspeitos de fazerem parte do Hezbollah e planejarem uma série de ataques no Brasil.
Nas redes sociais, perfis bolsonaristas vêm politizando a liberação dos brasileiros em Gaza, atribuindo o feito a Bolsonaro, que afirmou ter pedido ao governo de Benjamin Netanyahu a saída deles.
Em 7 de outubro, combatentes do Hamas fizeram um ataque surpresa contra Israel, matando 1,4 mil pessoas e fazendo outras 200 reféns, segundo autoridades israelenses.
Israel lançou, em retaliação, uma campanha militar em Gaza que já matou mais de 10,8 mil pessoas, sendo mais de 4,4 mil crianças, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.
Desde então, o governo brasileiro emitiu notas condenando os ataques e tentou viabilizar uma resolução no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que previa um cessar-fogo.
A resolução, no entanto, não foi aprovada.