Por Graziela Rezende
O Carnaval de 1998 estava acabando, assim como o dinheiro, e a viagem que começou de avião fez Cris voltar de ônibus, da Bahia para Campo Grande. Ou seja, duas noites e três dias, e tudo o que ela queria era chegar logo, já que nem grana para comer direito sobrou. No entanto, mal sabia que o que parecia um “bebum” entrando no coletivo era, na verdade, o amor da sua vida. Vinte e seis anos depois, o casal retornou ao Pantanal sul-mato-grossense, com a intenção de relembrar momentos e mostrar para as duas filhas onde tudo começou.
“Eu fui para o Carnaval em Salvador, sempre ia com os amigos para diversão e também para trabalhar em um projeto de ensinamentos sobre higiene pessoal e sexo. A gente foi em inúmeros municípios e aí fiz amizades em Tomar do Geru, lá no Sergipe. Fui passear lá e depois retornei para Salvador. Fui de avião, mas, na hora de voltar para casa precisou ser de ônibus mesmo. Lembro que eu estava passando mal, menstruada e ficou uma vaga do meu lado e outra lá no fundo do ônibus”, relembrou Cristina Egle Bernal, atualmente com 52 anos.
Na parada, o futuro marido de Cris, o economista e administrador Jürg Egle Bernal, também de 52 anos, entrou no ônibus e sentou ao lado dela. “Ele entrou tomando uma lata de cerveja dividir e aí eu pensei: ‘Lá vem o bebum sentar aqui’. E aí nós conversamos e, em duas horas de viagem e eu fiz um gesto, mostrando a barriga e chamando para almoçar. Eu sem um puto no bolso, achei o máximo que ele me pagou salgado e refrigerante. Depois, subi e estava com muito sono”, contou.
Passado algum tempo, Cris disse que dormiu como nunca tinha acontecido antes. “Eu cochilei, depois dormi de verdade e abri os olhos umas seis horas depois. Eu estava encostada nas pernas do Jorge – assim que é o nome dele no Brasil – e ele estava com os braços para cima, quieto o tempo todo só me olhando dormir. Ao acordar, ele me contou que queria conhecer o Pantanal. Eu expliquei que passaria pela minha cidade e, pela primeira vez na vida, passei o meu telefone e endereço para um homem”, afirmou.
Assim, pouco antes de desembarcar em Campo Grande, Jürg seguiu seu rumo. “Ele ficou em Brasília e eu cheguei terça de noite. Na quarta cedo já tinha que trabalhar. E o mais engraçado é que eu decidi contar para minha mãe, porque tinha passado telefone e endereço. Eu falei: ‘Mãe, conheci um rapaz, aconteceu assim e assado e, se ele aparecer por aí, diga que eu estou trabalhando’. E não deu outra. Era 6h da manhã, ele chegou na cidade, pegou um táxi e foi parar lá em casa”, disse.
Ao chegar, Cris diz que até as quatro cadelas que tinham no imóvel a recepcionaram bem. “Elas latiam para todo mundo, não paravam. No caso dele, deitaram no colo. E minha mãe quando o viu lá ficou super nervosa, eu estava tomando banho, me lembro bem da cena. Eu que falei: ‘Calma mãe, respira, coloca ele lá na sala e pede pra me esperar’. E ela ficou dizendo que sentiu que ele tinha um bom coração. Aí depois eu fui lá e expliquei pra ele que tinha que ir trabalhar”, comentou.
Ao chegar no emprego, Cris diz que contou tudo ao patrão e, em seguida, ele veio falar de uma mudança, em que ela precisaria me “retirar do Caixa e me colocar como vendedora”. “Eu disse que nem pensar, não aceitava e me demitia. Não fiquei brava, sempre gostei muito do meu patrão. Era um segundo pai, mais ainda depois do meu pai ter falecido. Voltei pra casa e lá estava o Jorge. E nessa altura os meus amigos estavam me cobrando para eu apresentá-lo”, falou.
Ao conversar com o “amigo estrangeiro”, Cris disse que ele teria dito: “Você não precisa trabalhar. Me leva lá na rodoviária que eu vou comprar o ticket para nós dois e vamos ao Pantanal. Naquele momento, minha mãe já o considerou como filho. E o engraçado é que passamos 15 dias lá, com mais de 20 pessoas nos servindo. Ele não me beijava e nem me encostava. Era muito respeitoso, só que eu não me apaixonei no começo, porém, lembrava das palavras do meu pai, que faleceu três anos antes. Ele dizia: ‘Deixa o homem gostar de você antes’ e ainda falava que eu ia casar com alguém que cozinhava bem. E tudo aconteceu”, argumentou.
Mesmo brincando que o Pantanal foi a “primeira lua de mel”, o primeiro beijo só foi ocorrer na volta desta viagem, nos altos da Avenida Afonso Pena, na capital sul-mato-grossense. “Eu agarrei ele lá e ele que ia ficar só dois dias em Mato Grosso do Sul ficou até o último dia do prazo e depois me convidou para ir para Europa. A minha mãe concordou na hora e eu até fiquei brava, falei: ‘Casa com ele você então’. E ela disse, brincando: ‘Não vai ficar com esses moleques do Brasil, não’. E aí eu fui…”, contou.
Desde então, a cada seis meses, ou Cris estava no Brasil, ou a mãe ia para lá visitá-la. “Nós casamos no dia 3 de setembro de 1999, após um ano e um mês juntos. Foram 24 horas de festa, ninguém da família esquece este casamento. Tinha música brasileira e a banda, que era pra tocar só por seis horas, ficou lá até o fim conosco, eles foram muito legais. E aí temos duas meninas, a Chayenne, de 17, e a Chantal, de 19 anos”.
Neste mês de maio, os quatro passaram um temporada em Campo Grande e estiveram também no Pantanal sul-mato-grossense, onde os pais relembraram o início da história de amor. “Eu fui ao cemitério, visitar a minha mãe. Ela faleceu em outubro de 2020. Agora venho aqui só a passeio. As meninas estudam lá, só que elas amam falar da nossa história, do Brasil para os amigos, de como começou o nosso amor, então, dá pra imaginar como foi incrível este passeio em família no Pantanal”, comentou.
Lá, a família se tornou pantaneira por quatro dias. “Foram dias maravilhosos de férias. Fizemos cavalgadas, subimos o Rio Miranda, fizemos trilhas, caminhada, passeio noturno, procurando onça. E a encontramos. Foram passeios pantaneiros mesmo, foi tudo maravilhoso”, finalizou.