Estudo da Embrapa revela desafios e avanços das mulheres no setor florestal
O setor florestal brasileiro, conhecido por suas extensas plantações e maquinário pesado, raramente é associado à presença feminina. Contudo, um estudo recente da Embrapa Florestas traz à tona a crescente participação das mulheres nesse campo, destacando os desafios e avanços que marcam essa trajetória. A pesquisa, intitulada A Participação das Mulheres na Cadeia Produtiva Florestal Brasileira, foi conduzida pela pesquisadora Cristiane Aparecida Fioravante Reis e revela um cenário de contrastes em estados como Mato Grosso do Sul.
Em 2021, Mato Grosso do Sul, um dos principais polos de produção de florestas plantadas do Brasil, registrou 4.026 empregos formais na cadeia florestal, sendo 17,6% ocupados por mulheres. Apesar de significativa, essa participação expõe a desigualdade de gênero no setor. “As oportunidades e os desafios que as mulheres enfrentam variam de acordo com a região e o setor específico dentro da cadeia florestal”, explicou Cristiane Reis, engenheira florestal e autora do estudo.
O estudo aponta que 71,85% dos empregos femininos na cadeia florestal estão concentrados na faixa salarial de 0,5 a 2 salários mínimos, enquanto os homens são mais representados nas faixas de remuneração superiores. Em Mato Grosso do Sul, muitas mulheres ocupam funções técnicas com ensino médio completo, mas têm acesso limitado a cargos de liderança, geralmente reservados a homens com ensino superior.
Apesar das barreiras, a presença feminina no setor demonstra resiliência. “O fato de elas se manterem e resistirem num setor dominado por homens já é uma conquista. No entanto, essa inclusão ainda ocorre mais em cargos de baixa remuneração”, comentou Reis, destacando a urgência de políticas que promovam uma inclusão mais equitativa.
POLÍTICAS PÚBLICAS COMO CAMINHO PARA O FUTURO
Além de mapear a realidade atual, a pesquisa da Embrapa sugere iniciativas para ampliar a presença feminina no setor florestal. Políticas públicas direcionadas, segundo o estudo, podem não apenas corrigir desigualdades históricas, mas também promover a sustentabilidade e inovação na cadeia produtiva. “Incluir mais mulheres na cadeia florestal não é apenas uma questão social, mas uma estratégia que pode reverberar positivamente em termos de desenvolvimento sustentável e em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, afirmou Reis.
A publicação foi bem recebida por lideranças do setor, que enxergam no estudo uma ferramenta para a formulação de políticas mais inclusivas. “Esperamos que as informações contidas nesta publicação sirvam de base para decisões que impactem positivamente na vida das mulheres e no futuro do setor”, declarou Marcelo Francia Arco-Verde, chefe-geral da Embrapa Florestas.
O relatório da Embrapa destaca que a participação feminina no setor florestal em estados como Mato Grosso do Sul não é apenas um movimento de resistência, mas também uma oportunidade para diversificar a base de trabalho e impulsionar o desenvolvimento regional.