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FIGUEIRÃO – O PÉ DE JATOBÁ.

Professor Admar de Araújo.
No final da década de 50, durante a medição das ruas de Figueirão, o engenheiro José Leandro, Patato, como era conhecido, pediu que seus trabalhadores poupassem daquelas afiadas lâminas de foices, “Sertãozinho”, um jatobazeiro adolescente. O pequeno jatobazeiro se destacava entre os gravatazais, guavirais e galhos retorcidos da flora que predomina nosso cerrado. Suas folhas verdes bailavam pelos ares, inquietas, como quaisquer adolescentes saudáveis e peraltas. Passou a ser um ponto de referência da turma. Em sua sombra guardava-se cabaças d’água, ferramentas e os caldeirões de boia. O jatobazeiro cresceu, floresceu, deu frutos, sempre espiando e testemunhando a História de Figueirão. Para nós, a gurizada, era uma das maiores atrações da vila. Esperávamos ansiosos pelos seus frutos maduros e saborosos. Disputávamos escalando a árvore, cada um gostaria de saborear os melhores frutos. As vezes derrubávamos na cacetada ou na pedrada de estilingue.Aos finais de semanas e dias santos, dezena de cavalos eram amarrados no tronco do jatobazeiro, enquanto os cavaleiros iam fazer compras e degustarem uma gostosa “Pirassununga”. Ao voltarem pras casas, alguns mal agradecidos, descarregavam seus revólveres na árvore que os acolheu com muita amizade e respeito. Haviam nela até chumbos grossos de 44, do famigerado Antônio Geraldo , o temível Chiripa. Açougueiros utilizavam–se do seu caule para amarrarem vacas ao abate. Que pena! Laçavam a rês e arrastavam até encostar a cabeça no tronco. Presa, sem a mínima condição de defesa, o carrasco se aproximavam com uma faca enorme na mão, batia com ela em seus chifres, calculava o rumo do coração e lhe enfiava o aço afiado e pontiagudo. O animal soltava um berro de dor, debatia–se e mantinha em pé com o sangue jorrando e espumando no chão. Tremia até esgotar a última gota de sangue…e caía morta. Era o tronco onde os policiais torturavam os baderneiros. Tive pena, certo dia, ao ver o Monção Paraguaio apanhar da polícia até escorrer pelo rosto magro e pálido, o sangue guarani.Naquele mesmo rosto vitimado pelo excesso do álcool e maldade policial, amanhã por essas horas, estaria escorrendo suor em suas faces, e não sangue, em seu duro trabalho no campo. Quantas recordações do meu pé de jatobá! Em 1980, perdeu a vida, numa luta travada corpo a corpo com uma possante Caterpillar. Sua presença, bem no cruzamento da Moysés Galvão com a 15 de agosto, “atrapalhava” a presença da rede elétrica.
Professor Admar de Araújo.
Historiador Figueirãoense.

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