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Promessa morreu com Bertoldo, mas sua alegria continua na Festa do Divino Espírito Santo em Figueirão

Por Idaicy Solano – Campo Grande News

Bertoldo Vieira da Silva foi figura carimbada na Festa do Divino Espírito Santo, celebrada na comunidade quilombola Santa Tereza, em Figueirão, por mais de 50 anos. A tradição nasceu de uma promessa.

Irmã de Bertoldo, Felicíssima da Silva Gama, 69, conta que a família se mudou para a região da comunidade por volta de 1909, época em que uma doença que causava febre intensa assolou o pequeno vilarejo e causou muitas mortes.

Diante disso, sua bisavó, Maria Francelina, fez uma promessa ao Divino Espírito Santo, de que se o povoado encontrasse a cura, os homens da família, até a sua quarta geração, participariam ativamente da festividade. Sendo ele a quarta geração de Maria, Bertoldo foi o responsável por fechar este ciclo, mas deixou um legado que Felicíssima garante que será seguido.

“Naquela época mal tinha médico, ninguém tinha diagnóstico. Ela fez a promessa e foi atendida e assim começou. A participação dele e da nossa família, é um compromisso nosso. O [nosso] pai era participante, depois ele, e todos nós de alguma forma procuramos seguir cumprindo nossa missão”, conta Felicíssima.

Na cintura de Bertoldo, garrucha utilizada para dar os tiros no Giro de Santa Tereza (Foto: Arquivo Pessoal)
Na cintura de Bertoldo, garrucha utilizada para dar os tiros no Giro de Santa Tereza (Foto: Arquivo Pessoal)

Todos os anos, Bertoldo saia em cima de um cavalo da região de Pontinha do Coxo, para o percurso de 15 dias convidando as pessoas para a festa do Divino. Sua função no Giro de Santa Tereza era utilizar a garrucha para dar um tiro, durante os “salves” e os “vivas”.

Este ano, a saída dos foliões com a bandeira para o giro pela região, convidando para a festa, foi no dia 5 de maio, dois dias antes de Bertoldo falecer. A chegada da bandeira será neste sábado (18), e a festa se encerra no domingo do Pentecoste.

Os últimos dias do folião foram tranquilos, na casa da filha Luciene Gomes da Silva, 50, da maneira que ele sempre gostou de levar a vida: cercado das pessoas que ele ama. O nó na garganta ao relembrar o dia em que o pai partiu traduz a tristeza que habita o coração de toda a família neste momento.

“Era uma pessoa muito alegre, não tinha tristeza, vivia cantando música raiz sertaneja. Não gostava de ficar dentro de casa, até os últimos dias, se tava na varanda, e eu perguntava se queria entrar, ele perguntava se todos íamos entrar com ele, se não ele não ia ele gostava de gente por perto”, diz a filha.

Bertoldo lutava contra um câncer no pâncreas desde 2011. A filha conta que em julho de 2023 a doença voltou e não teve como reverter a situação, pois se espalhou para o fígado e  rins, e o idoso ficou muito debilitado fisicamente para seguir com o tratamento.

“Ele era uma pessoa muito alegre, tinha a arte de fazer todo mundo rir, por isso entre os foliões e a família ele era uma pessoa muito querida, isso é o que fica na minha memória. Éramos dez irmãos muitos unidos e infelizmente tivemos que nos separar”, lamenta Felicíssima.

Celebração tradicional – A Festa do Divino Espiríto Santo é um bem imaterial de Mato Grosso do Sul. Em novembro de 2015, com aval da família Malaquias, a Comissão Sul-mato-grossense de Folclore entrou com pedido para o Registro de Patrimônio Imaterial da festa e seus elementos culturais no Conselho de Cultura Estadual.

No ano seguinte, uma apresentação oficial foi feita ao Conselho de Cultura do Estado, e em dezembro de 2021, o governador da época, Reinaldo Azambuja, publicou o decreto reconhecendo a celebração como bem imaterial. Este ano, a festa completa 113 anos.

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