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Empresas cobram R$ 184 mi e tentam penhorar valores pagos pela Globo para fazenda de “Terra e Paixão”

As multinacionais Bunge e Seara entraram na Justiça para reaver uma dívida de R$ 184 milhões da família Rocha, dona da Fazenda Annalu, localizada em Deodápolis, no sudoeste de Mato Grosso do Sul. As duas gigantes do agronegócio afirmam que os responsáveis pela propriedade esvaziaram o patrimônio de empresas implicadas no caso da cerealista Campina Verde.

Reportagem do site de “Olho nos Ruralistas – Observatório do agronegócio no Brasil” revela que, segundo as multinacionais, os Rocha transferiram os negócios para primos e laranjas para fugir das dívidas, além de terem vendido mais de 180 mil toneladas de soja e milho pertencentes à Seara e a Bunge.

O caso Campina Verde se refere a uma investigação do Ministério Público Estadual, iniciada em 2004, que denuncia o grupo empresarial de Dourados por sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, enriquecimento ilícito e constituição de organização criminosa.

Nilton Rocha Filho, fundador do conglomerado e proprietário original da Fazenda Annalu, chegou a ser preso em 2006, junto dos filhos Aurélio e Nilton Fernando Rocha. Os três foram soltos dias após a prisão e tiveram a condenação prescrita em 2018, por ausência de julgamento.

Os irmãos são pais dos atuais donos da Annalu: Aurélio Rolim Rocha — o Lelinho — e Nilton Fernando Rocha Filho.

Lelinho foi tema de reportagem específica (clique aqui para ver) da série sobre a fazenda que inspirou a família La Selva da novela “Terra e Paixão”, exibida em horário nobre na TV Globo, que teve seu último episódio exibido na sexta-feira (19).

Desde quarta-feira (17), De Olho nos Ruralistas descreve o histórico de violações ambientais da Fazenda Annalu, que vai do desmatamento e criação de gado em área de Reserva Legal ao desvio do curso de um afluente do Rio Dourados para atender um megaprojeto de piscicultura de tilápias.

Na ação de cobrança da Seara, o frigorífico pertencente à JBS afirma que “as práticas ilícitas [do caso Campina Verde] continuam a se desenvolver até os dias atuais”. Como a Globo alocou o cenário, as empresas pedem a penhora dos valores pagos para quitar parte da dívida.

Na Justiça, Bunge e Seara tentam penhorar aluguel pago pelo cenário da novela da Globo. (Foto: Divulgação)

Denúncia e troca de nomes

O caso Campina Verde, como ficou conhecido, apontava a sonegação de impostos federais e estaduais, usada para o enriquecimento ilícito dos sócios da armazenadora de grãos de mesmo nome.

Segundo a denúncia oferecida pelo MPMS, Nilton Rocha Filho e seus herdeiros se beneficiaram de uma rede de empresas fantasmas, registradas em nome de laranjas e familiares, para vender grãos sem pagar impostos, mantendo a Campina Verde como mera armazenadora.

A investigação do órgão apurou que as dívidas com a Receita Federal chegavam a R$ 95 milhões, além de outros R$ 27 milhões em direitos previdenciários que deixaram de ser pagos. As dívidas relativas ao ICMS estadual foram estimadas em R$ 123,9 milhões.

Com a repercussão midiática, a família alterou o nome da empresa para CAED Comércio de Grãos, contratada pela Seara e a Bunge para armazenagem de soja e milho.

Segundo as ações de cobrança movidas pelas gigantes do agronegócio no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), o grupo Valor Commodities, que administra a Fazenda Annalu e outros 50 mil hectares de terras no Mato Grosso do Sul, é apenas uma nova roupagem para que a Campina Verde fuja das dívidas e ações criminais.

O grupo tem sede no mesmo escritório onde a família geria as empresas implicadas nos casos de sonegação. Os antigos sócios não aparecem mais no contrato social. Os atuais donos são Nilton Fernando Rocha Filho e seu primo Aurélio Rolim Rocha, o Lelinho — que conta trabalhar diretamente com o pai e o tio.

Tentando reaver o prejuízo de R$ 59 milhões e R$ 125 milhões, respectivamente, Seara e Bunge vêm pedindo a penhora dos bens da família, incluindo as aeronaves da Mirage Aero, empresa que fazia parte da armazenadora Campina Verde, e que hoje integra o Grupo Valor.

No curso dos processos, Bunge e Seara pedem que a Rede Globo seja intimada a dar detalhes dos valores pagos pelo aluguel da Fazenda Annalu durante as gravações de “Terra e Paixão”. O pedido argumenta que o crédito deveria ser depositado diretamente para as empresas que tiveram grãos desviados pela família Rocha.

O processo da Seara corre em segredo de justiça. No caso da Bunge, a empresa aguarda o desfecho da ação judicial, e ainda não houve acordo nos autos do processo. Segundo a Bunge, o Grupo Valor desviou aproximadamente 139,5 mil toneladas de soja da multinacional.

Clique aqui e confira a reportagem na íntegra.

Richelieu de CarloBy 

ojacare.com.br

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